Aquilo que parecia ser passageiro; chegou, ficou e nos obrigou a pensar, repensar, mudar, adaptar, reaprender, reinventar…
Cada um à sua maneira foi criando uma nova forma de viver. Alguns se adaptaram mais facilmente; outros tiveram mais dificuldade, sofrendo com a realidade, a impotência, a angústia, desenvolvendo quadros mais graves.
Pandemia na saúde mental já existia, só se intensificou. A avalanche de novos sentimentos e informações, muitas vezes desencontradas, colaboram ainda mais no aumento de doenças mentais, como depressão e ansiedade. O tratamento psicoterápico e medicamentoso se faz necessário nesses casos.
Não podemos negar que a quarentena, o isolamento social nos obrigaram a uma recomposição psíquica; muitas vezes dolorosa e num momento que não desejamos estar em contato com esses conteúdos.
Nossa vida desacelerou e nos aproximamos de nós mesmos. Com isso os “fantasmas” ressurgiram, a solidão se intensificou, a angústia aumentou e o medo da morte acordou do sono mais profundo e primitivo.
Aquele que trilhou o caminho da solidão até se encontrar com a solitude, certamente sente-se mais confortável diante do afastamento social, encontrando prazer em atividades realizadas em sua própria companhia.
Estar só nos coloca diante do silêncio e assim podemos nos ouvir melhor. Assim, estamos a sós conosco e nosso mundo interno passa a gritar; mas nem todos estão prontos e querem aproveitar essa oportunidade. Sim, oportunidade!
Oportunidade de cuidar de si, dos conflitos, da relação conosco e com o outro.
Oportunidade de diminuir a aceleração de nossas vidas, diminuir o consumo, o materialismo e o individualismo. Aqui está a oportunidade de olhar para o outro e exercitar o altruísmo, de se interessar pelo mundo daquele que sempre esteve ao nosso lado. Eis aqui a oportunidade de nos enxergar nos olhos do outro, de aprender a leitura do olhar.
Temos hoje um momento inédito em nossas vidas. Como passaremos por essa fase? O que faremos com tudo isso? Como sairemos disso?
Cuidar do físico não é o bastante para sobrevivermos a essa pandemia. Precisamos desenvolver nossa capacidade de resiliência. Ela nos ajudará passar pelo processo de forma menos sofrida.
Como diz o pensador: “O que não me mata, me torna mais forte”. Nietzsche
Renata Guerra
Psicóloga clínica, hospitalar e terapeuta sexual.